Cremos sinceramente que vivemos hoje um tempo em que o real sentido das coisas é na verdade não ter um sentido definido. Várias são as ideologias, vários são os significados, mas em verdade o que se busca essencialmente é o nada. Mas e a vida, faz sentido?
Sejam as chuvas da região serrana do Rio de Janeiro, seja a tsunami que atingiu o Japão, existem acontecimentos que irremediavelmente geram no coração humano a indagação quanto ao sentido da vida. A vida moderna é sustentada em alicerces virtuais, que não se assentam em nenhum alicerce fundamental, limitando-se ao acaso e, por isso mesmo, questiona-se (seja a quem for) a razão da vida, principalmente em momentos difíceis (já que em momentos de paz não há tempo para isso).
O sábio rei de Israel e famoso pesquisador judeu da antiguidade afirmou: "Há caminho que parece direito ao homem, mas ao final são caminhos de morte." (Provérbios 16.25).
Não é difícil se constatar que a problemática do sentido da vida não é um fato novo, pois desde a antiguidade o homem busca sentido ou significado para sua existência e razão para as coisas, significado e razão que servirão de sustento – ainda que inconscientemente – nas tomadas de decisões ao longo da própria vida.
Há invariavelmente duas estradas a se seguir. De um lado, aqueles que acreditam na existência de um Deus poderoso que tudo criou com planos e objetivos que orientam a humanidade ou, em uma versão não religiosa, de um deus que criou um conjunto de coisas que são geridas pelo mero destino, sorte e azar, tudo por meio de forças impessoais que os guiam. Do outro lado os que crêem no mundo como um mero acaso, um aglomerado de eventos desconexos e aleatórios que guiam a história humana, sempre com base em leis naturais cegas, impessoais e sem qualquer propósito final.
Sem dúvida algum a última tem influenciado consideravelmente a maneira de ver o mundo em nossa geração, gerando, entre outros frutos, o vácuo de sentido com a fragmentação da realidade em que vivemos.
Tal fragmentação pode ser experimentada em várias esferas da vivência humana contemporânea, influenciando o modo em que o homem se posiciona em relação a si mesmo e em relação à sociedade em que vive. O famoso intelectual francês Edgar Morin já asseverou que ”... o sistema educativo fragmenta a realidade, simplifica o complexo, separa o que é inseparável, ignora a multiplicidade e a diversidade... As disciplinas como estão estruturadas só servem para isolar os objetos do seu meio e isolar partes de um todo. Eliminam a desordem e as contradições existentes, para dar uma falsa sensação de arrumação. A educação deveria romper com isso mostrando as correlações entre os saberes, a complexidade da vida e dos problemas que hoje existem.”
Vemos que a fragmentação na educação (mero exemplo) é produto da mentalidade que permeia o pensamento geral do homem moderno, a qual tem sua fonte em filosofias que estabelecem que não há um sentido definido para o mundo e, portanto, também não para o homem e sua existência.
Há de igual modo a ciência que afirma ter provado que o universo é um sistema fechado de causas e efeitos, governados por leis cegas e mecânicas, que classifica a ideia de que há um Deus bom e misericordioso como ideia ultrapassada e, portanto, subjugada aos círculos religiosos.
No entanto, seja por uma visão inspirada na existência de um deus que tudo estabeleceu para a gestão do mundo na base da sorte ou do azar, baseado na impessoalidade, ou, ainda, por uma visão fechada na ausência de razão e propósito, onde tudo se estabelece por leis cegas, impessoais e neutras em si mesmas, o homem tem limitado sua visão ao reducionismo cientificista, que por sua vez reduz a raça humana a meras trocas químicas de átomos ao acaso e controladas por leis cegas.
Tal postura tem roubado do homem o privilégio que se encontra na essência humana de se entender como um ser libertado, que aprecia o belo, encontra realização na transcendência, que faz o bem, ama sem motivos e descobre o que isto significa em si.
É a existência de um Deus poderoso, pessoal, próximo e amável (no mais amplo sentido) que irá estabelecer a existência do homem. Para os que não crêem na existência desse Deus outra sorte não há senão a de se conformar como meros sub-produtos de um processo que saiu do nada para lugar nenhum e, portanto, sem nenhum alvo a atingir. Por outra via, crer que existe um Deus grandioso em misericórdia, perdão e bondade, longe de nos alienar da realidade, nos concede a perspectiva necessária para reconhecer que a vida faz sentido, não a vida no sentido amplo apenas, mas a nossa vida pessoal e particular faz sentido e é parte de um todo sonhado e criado pelo Deus soberano.
É aí que está o fio da meada que nos leva ao real sentido da vida.
"Há caminho que parece direito ao homem, mas ao final são caminhos de morte."
(Provérbios 16:25)
(Inspirado na entrevista do Dr. Augustus Nicodemus Lopes - Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie – www.mackenzie.br)